sábado, 28 de março de 2009

Uma Bela Poesia

Quando eu morrer quero ficar

Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.

Mário de Andrade

terça-feira, 24 de março de 2009

AMOR & PAIXÃO

AMOR & PAIXÃO

Ah, o amor… Quem não ouviu falar dele? Mais será que essa gente sabe que ele é diferente da paixão, que tem que ser aprendido e que dá um trabalho conquistar?

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Sabe aquela emoção que enche o peito, faz ferver o sangue, palpitar o coração? Aquele sentimento que dá vontade de sair dançando e cantando no meio da rua? Sabe? Pois é, isso não é amor! Pode ser uma coisa muito boa, menos amor. Talvez seja paixão, um desejo de se fundir no outro, surto emocional ou até mesmo uma mistura explosiva de tudo isso. Mais amor não é. Prefiro dizer isso logo de cara, porque muita gente já confundiu esses sentimentos, e não são poucos os poetas, compositores, dramaturgos cineastas que insistem em chamar de amor essa sensação embriagadora.

O amor de verdade, no entanto, começa depois do fim e é menos atormentado e impulsivo. Em compensação, é mais forte e profundo.

E já que estamos limpando o terreno, é bom avisar também que o amor de verdade é coisa rára e dificil de ser vivido. Mais, ele não acontece por acaso, nen de repente. E dá trabalho para conquistar. Desculpe a franqueza, mais é melhor jogar um balde de água fria agora do que lá no meio do texto. “ o amor é uma árdoa conquista. A paixão abra do acaso, brincadeira dos deuses”. Escreveu o psicanalista autriaco Erich fromm, estudioso do assunto. Enfim, o amor é um sentimento cultivado com paciência, uma escolha que exige nossa participação ativa e consiente. Ele pode nascer da paixão, mas seguramente não possui a mesma natureza instantânia e efêmera.

Mais, antes de você se imprecione com tantos obstáculos e desista de ler o texto, vale um aviso: amar não é fácil, mas a recompensa é grandiosa. E quem diz isso não sou eu, que tenho dificuldades assim como muitas pessoas de alcançar um amor verdadeiro. Quem diz isso é Dalai Lama, um dos maiores conhecedores do amor. E o que ele diz? Que o amor é a chave da felicidade que podemos provar na Terra. Vou repetir: “a maior felicidade que podemos provar na Terra”.

E agora, aumentou a vontade de continuar a leitura?

Antes de sair em busta desse belo sentimento, é melhor saber do que estamos falando. Definir seus contornos, precisar o que ele é, e o que não é. Só então podemos ir a campo para enfrentar o mais emocionante desafio, talvez a razão de nosas vidas: APRENDER A AMAR.

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Lembra aquele carrinho, ou a sua primeira bicicleta que você tanto adorava na infância? Eles podem ajudar a entender o que é o amor. Durante horas você não parava um só instante de brincar, andava em plemo meio dia pra cima e pra baixo com a sua bicicleta.

Naquela época, você poderia jurar que amava aquela bicicleta, ou aquele carrinho, e que eles eram muito importande na sua vida. Até poderia dizer que não saberia viver sem eles. Que você estaria sendo sincero. ( com as garotas, poderiamos dizer que fosse uma boneca)

Talvez você nunca tenha parado pra pensar por que “amava” tanto aquele brinquedo. Mais a razão é bem simples. Porque ele lhe dava prazer. Ali estava Eros, o impulso que estimulava o amor pelo inocente brinquedo. É o mesmo impulso que mais tarde fez você se apaixonar por uma profissão, e depois por uma namorada ou um namorado.

Eros é o impulso para a vida. É ele que nos leva a fazer o que nos dá prazer uma, duas, três, quantas vezes for bom. Em outras palavras, Eros é o motorzinho que faz girar o mundo.

Essa foi uma das maiores descobertas do doutor Sigmund Freud, que rebatizou o Deus grego do amor de “LIBIDO” e estudou seu efeito surpreendente no comportamento de homens, mulheres e crianças. Éros é a paixão o desejo do prazer.

Mas não o amor. “ de todas as concepções errôneas, a mais poderosa e insidiosa é aquela que afirma que a paixão é sinônimo de amor. Ou pelo menos umas das suas manifestações”. Diz o outro expert desse tema, o medico psiquiatra americano M. Scoott Peck, que escreveu o livro A TRILHA MENOS PERCORRIDA. Um livro sobre amor.

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EU ME AMO

No estado erótico, ou paxião, é você quem interessa. Não importa tudo o que de belo e bom você possa fazer para quem está apaixonado. No fundo, você só esta fazendo isso porque quer o seu prazer. Diz Erich fromm em “A ARTE DE AMAR”. “É uma troaca: o objeto da minha atenção deve ser desejavel, sob o aspecto do seu valor social, e , ao mesmo tempo, desejar-me, levando em consideração minhas potencialidades e recursos expostos e ocultos”. Escreveu Fromm.

Assim, segundo ele, duas pessoas se apaixonam quando sentem haver descoberto o melhor objeto disponivel no mercado, considerando a limitação dos seus próprios valores cambias.

Em resumo, de acordo com o que sou e o que tenho é que eu vou medir o outro. Se ele for aprovado em relação ao que acho de mim mesmo e se eu não for muito medroso (é muita areia pro meu caminhãozinho), sou um sério candidato a me apaixonar. Ou, mais cruelmente, a me sentir atraido por alguem capaz de fatisfazer meus desejos. Pode parecer horroroso dido desse jeito, mais é a sinuosa estrada da paixão. E, mesmo torta desse jeito, ela pode desembocar no amor.

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DE ONDE ELE VEM

O filosofo francês Roland Barthes é um dos que acriditam que o sentimento mais profundo pode nascer de uma paixão. No clássico “Fragmentos de um discurso amoroso”, ele diz que a primeira fase do amor é a paixão, que ele descreve assim: “Deslumbramento, entusiasmo, exaltação, projeção louca de um pleno: sou devorado pelo desejo, a impulsão de ser feliz. Fico cego”. Mais isso não é dura, é claro.

Cientistas que se debruçaram a estudar a saúde dos apaixonados, concluiram que essa paixão dua dois anos. No maximo. Mais cedo ou mais tarde a “cegueira” passa e a realidade aflora, incluindo os defeitos do objeto da paixão. Uma decepção que ele cham de “paixão triste”.

Pode ser o fim de uma relação. Ou o começo de um novo caminho,mais longo, menos acidentado, mais tranquilo e feliz. Esse caminho é chamado AMOR.

Nem sempre o amor nasce assim. Os indianos se casam aos 13 anos, com alguem escolhidos pela família. E você seria ingênuo de achar que não há amor nos lares indianos?

De onde ele vem então?

Não é de uma paixão, mesmo porque, nesses casos, ela ás vezes nem entra em cena.O sentimento nasce sa convivência.

Na paixão, a atitude é passiva – queremos ser amados para garantir nosso prazer. O ego, portanto, vem em primeiro lugar. “ a maioria das pessoas vê a questão do amor, em vez de amar”. “O amor, por outro lado, exige uma atitude ativa que conscientimente, coloca o outro em primeiro plano”. Quer dizer, para amar é preciso antes de tudo, pedir licença e tirar a si mesmo da frente.

“ O amor consiste em dar, não em receber”.

“Amar é verbo, e verbos implicam uma ação concreta. A ação corresponde ao verbo amar”.

“Amar é dar-se, sem pedir, cobrar ou esperar”.

A reconpença do amor é o proprio amor que se sente, que inunda o coração, não o amor que se recebe do outro. É um transbosdamento da alma. E provar o amor dessa maneira traz uma felicidade avassaladora.

Se você, como eu e o Dalai Lama, entre tantos, acredita que o objetivo maximo da vida é ser feliz, eis aí por que vale a pena aprender a amar.

Nesse ponto, você, assim como eu, já deve estar se perguntando se amou desse jeito na vida. Eu, sinceramente já amei. Mais não sei sei se fui amado dessa maneira e já vi pessoas amarem com esse despojamento e ao mesmo tempo, com grande intensidade.

Portanto, não é impossivel. Basta começar a se abrir para mudanças.

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AFINA, O QUE É?

Agora que já estabelecemos as diferenças entre o amor e a paixão, podemos arriscar uma difinição do amor. “E amar… considerar o outro em primeiro lugar”. É uma mudança gigantesca com relação à paixão, tanto de qualidade de sentimentos como de atitudes.

Se quiser aprender a amar, comece com algo pequeno, como cuidar de um cachorinho,dizia o mestre armênio Georges Gurdjieff. Segundo ele, quem não consegue tratar um animal ou uma planta por exemplo, não consegui ou fica mas complicado amar. Não é o amor, mais sim um terreno fértil para ele nascer, podemos exercitar qualidades como cuidado, dedicação, carinho, respeito pelas necessidades do outro, sem que o objetivo imediato seja a garantia do nosso próprio prazer. “Para amar, é preciso descobrir o que isso significa, que qualidades formam uma pessoa amorosa e como desenvolve-las. Mas esse potencial é realizado sem esforço”. Disse o professor americano Leo Buscaglia em seu livro Amor, estrondoso sucesso editoria na década de 80.

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O COMEÇO DE TUDO

“A base do amor adulto está na infância, no sentimento de fusão total que o bebê sente com relação a sua mãe”. Diz Levi Leonel de Souza, psicologo paulista especialista de psicossomática.

É essa sensação de união, de integração. Que vamos buscar nas nossas relações amorosas. Em outras palavras, é possivel amar alguem(além de nossos pais, nossos filhos). Sem essa experiência primordial como fundamento, dificilmente se desenvoloverá mais tarde o amor adulto e maduro entre dois seres independentes. “ Ela terá de ser resgatada na tarapia”, diz ele. É na brincadeira que se estabelece a confiança no outro, confiança essa que é o ingrediente básico do amor.

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É POSSÍVEL AMAR A TODOS?

Sem dúvida. “Amar de maneira incondicional é uma forma de evolução da consciência”, afirma Lama Santer, estudioso do budismo tibetano. Para ele, amar e cuidar são sinônimos de bem próximos.

“ Uma coisa pode levar a outra: exatamente porque cuidamos, passamos a amar e porque amamos, cuidamos”. Diz ele. Lama Santen endente bem do assunto.

Entre muitas atividades, cuida de uma comunidade budista e ensina meditação para crinças carentes – inclusive para garotos da Febem de São Paulo. Ele diz: “quando fui lá, em setembro, vi um menino quese nu sentado no corredor, com as mãos envolvendo a cabeça desesperado. Era o primeiro dia dele na instituição. Eu pensei: o que esse menino quer escultar de mim, que esperanças real posso dar para ele? E e depois pensei melhor: o que eu estaria sentindo no lugar dele, como estaria minha vida naquele momento, o que estaria passando pela minha cabeça?”

Ao fazer esse exercicio, Lama Santer acertou em cheio. Ele estava procurando se colocou no lugar do outro, uma bela maneira de despertar a compaixão, que é sentir intesamente no coração a sentimento alheio. A compaixão, como o amor, também pede que saiamos da frente para colocar o proximo emprimeiro plano. Podemos dizer até que aquele amor entre duas pessoas, na medida em que se torma mais consciente e menos egocêntricom torma-se um exercício que pode ser expandido na direção dos outros seres humanos. Ganha então novas cores e possibilidades.

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POR FIM, UMA HISTORINHA.

Uma história chinesa mostra transformações radicais que ocorre na alma humana, ao exercitar o amor pelo outro, manifestando sob a forma de carinho, cuidado e atenção.

A pequena Sun Tui, esposa de filho de um mercador, tinha como sogra uma megera, que deixava todas as tarefas da casa para Sum Tuin fazer. Era um tal de “sum Tui, faz minhas tranças”, para cá, “sum Tui, dê de comer aos porcos” para lá, um inferno para a jovem que era ainda quase uma crinça. Sum Tui não tinha nen um minuto de descanso e odiava a sogra.

Desesperada, um dia ela foi ao mestre herborista da vila implorar um veneno para colocar no chá da sogra. Contou, chorando, toda a triste história de suas desgraças, e o especialista em ervas decidiu ajuda-la. “vou lhe dar um veneno muito potente, de ação lenta e segura”.Disse ele. “mais é preciso dá-lo aos pouquinho, todos os dias. Assim, ninquém suspeitará de você nem de mim quando a sua sogra morrer. Nesse período, para evitar suspeitas, você deve tratar sua sogra com todo carinho, satisfazendo seus caprichos com alegria. Cuidando dela com amor e tolerância. Só assim poderei ajuda-la”, concluiu.

Sum Tui aceitou imediatamente as condições e desdobrou-se em cuidados. Sempre antecipando os desejos da megera, trazia flores e mimos para arrancar seus sorrisos, caprichava nos bolos e doces que servia no lanche da tarde. A casa vivia brilhando e ela não se esquecia de colocar o veneno no chá da sogrinha toda noite.

Acontece que, com as novas atitudes da nora, a megera amoleceu. Um dia pedia para Sum Tui sentar e descansar aos pés, enquanto lhe contava uma história. No outro, separava um lindo corte de cetim pra jovem fazer um vestido. Ou então a presenteava com pulseiras e anéis de jade, para que pudesse ficar mais bonita. Quem as visse, pensaria que eram mãe e filha.

Sum Tui também começou a abrandar. O carinho, o cuidado e a preocupação com a sogra passaram a ser reais. E certo dia, arrependida por ter tido vontade de matar a sua antiga inimiga, voltou desesperada ao herborista –dessa vez para implorar por um antídoto.

O mestre escutou pacientemente as lamurias de Sum Tui. Pediu o veneno de volta e ela obediente entregou o pacotinho. Diante dos olhos arregalados da menina, o herborista despejou o conteúdo de uma vez só no próprio chá e tomou. Sorrindo, o velho herborista, que conhecia a alma humana, tinha usado um artifício para despertar o coração da menina. Nunca houve veneno e nem era preciso o antídoto.

Sum Tui tinha aprendido a amar.